A EDITORA RHJ LANÇA NESTE SÁBADO A OBRA " ILÍADA DE HOMERO: TRADUÇÃO EM QUADRINHOS".





No livro, as possibilidades narrativas dos quadrinhos são usadas em prol de uma melhor fluência, de uma maior compreensão e absorção do texto original em todas as suas nuances.





Ilíada em Quadrinhos: um novo olhar sobre uma obra imortal


Para muitos, a Ilíada de Homero é o título ameaçador de uma obra literária provavelmente cansativa e pouco familiar. Para outros, é uma história de guerra e de sucessivos combates. Um terceiro grupo de leitores procura nela informações históricas, geográficas e socioculturais; um quarto vê no livro a origem de expressões como “presente de grego” e “cavalo de batalha”; mais uma parcela de indivíduos observará que temos diante dos olhos um produto artístico que dialogou com uma infinidade de outros. Haverá quem se interesse pela fama de obra fundamental da Literatura. A lista prosseguiria, se desejássemos, mas isso é suficiente para se perceber que, mais que uma narrativa de feitos militares ou de um instrumento de pesquisa, trata-se de um documento humano de caráter único.

Ninguém sabe, até hoje, se a Ilíada foi composta por um ou por vários autores. Não se sabe se ela foi ou não foi sendo composta oralmente, em apresentações dos chamados rapsodos, para depois fixar-se sem mudanças ou se continuou mudando no tempo. Mas, comprovadamente, ela comoveu gerações de leitores de todo o mundo e houve mesmo descobertas arqueológicas auxiliadas pelo registro ficcional das aventuras e desventuras dos gregos e troianos.

Ocorre com esse relato algo corriqueiro no que toca aos chamados “clássicos”. São obras em permanente metamorfose: não continuam as mesmas para cada leitor, não permanecem iguais se visitadas em épocas diferentes de nossas vidas e normalmente não se parecem, no seu contato conosco, com aquilo que os outros nos falam a respeito e com aquilo que aprendemos de modo indireto. Uma obra como a Ilíada se revela sempre nova, razão pela qual ainda hoje milhões vão ao cinema para conferir se uma nova adaptação fílmica vale a pena, tradutores insistem em retornar ao texto e estudiosos se empenham em oferecer interpretações detalhadas para gestos, palavras e ideias ali apresentadas.

Aqui encontramos este belo patrimônio universal em quadrinhos, uma modalidade ao gosto contemporâneo pela concisão, agilidade e transmissibilidade quase imediata. A opção não deve ser vista apenas como uma nova roupagem para um texto já cheirando a mofo. Pelo contrário, é uma demonstração cuidadosa de que mensagens significativas continuarão comunicando ao longo do tempo, renovando-se e adequando-se a realidades diversas do seu contexto primeiro. Também pretende-se dar ao jovem leitor um instrumental para identificar e compreender figuras de linguagem: estas não só configuram a base da Ilíada e de textos poéticos, mas também do discurso cotidiano. Estar habilitado a decifrar uma estratégia como essa é aprender a argumentar, é vivificar o ensinamento da sala de aula levando-o para a experiência diária.

A arte de Piero Bagnariol, sutil, vigorosa e criativa, é um convite à viagem pela imagem e uma defesa de um produto educativo exigente e desafiador. Já a tradução, inédita, laboriamente alcança um texto leve, fiel ao original grego e recheado de referências à poesia e à arte brasileira.

Para um adolescente, a Ilíada descortina o processo doloroso e fascinante de crescimento de Aquiles, um menino, no começo da ação, com defeitos, qualidades e um coração maior que o mundo, que se torna, ao final, um guerreiro de deslumbrante lucidez que apreende “na marra” o que se esconde por detrás da fama e da vitória. É uma vida que poderia ser a de cada jovem, em linhas épicas, mas real e concreta, porque profundamente humana, com dilemas pequenos e grandes, solidão e paixão. Em particular, pode surpreender a presença feminina, a qual é relevante, embora seja marcada por um tom agridoce (algumas muitas coisas ainda precisam ser mudadas no mundo), sem deixar de mostrar que é próprio das grandes obras alçar-se por sobre os preconceitos.

É ambição deste trabalho, inflamar os leitores de todas as idades e sensibilizá-los para a refinada composição antiga e para a sua recriação moderna. Temos a convicção de que, se lhes for dada a chance, em breve teremos jovens compondo raps e cordéis, grafites, sambas e espetáculos de street dance com o enredo e os recursos aprendidos de Homero e que ela pode ser, como experiência de leitura, uma beleza para toda a vida.
Manuela Ribeiro.


Sobre os autores

TEREZA VIRGÍNIA RIBEIRO BARBOSA possui graduação em Português-Grego pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980), mestrado em Estudos Linguísticos pela UFMG (1190) e doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997). Atualmente é professora associada de língua e literatura na UFMG (ministrando cursos na Faculdade de Letras e na Faculdade de Belas Artes/Teatro). Participou da elaboração do Dicionário Grego-Português (Ateliê) e desenvolve trabalhos também nas áreas de Teorias da Tradução, Lexicografia, Semântica e Análise do Discurso. É tradutora do drama satírico remanescente de Sófocles, Icneutas, os Sátiros Rastreadores, Editora UFMG (2012).

ANDREZZA CAETANO nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1977. É uma admiradora das artes plásticas e do teatro. Viveu na Espanha durante quatro anos; local onde surgiram as ideias   para seu primeiro livro, Entre o céu e o inferno, Editora Multifoco (2011). Ali iniciou o curso de Letras Clássicas, na Universidade de Barcelona, tornando-se acadêmica e cultora de língua e literatura grega.

PAULO CORRÊA escreve quadrinhos desde os 14 anos de idade. Em 2001, estudou Roteiro de Quadrinhos e Desenho Artístico no extinto Emcomum Estúdio Livre. Em 2006, após ter participado de alguns FIQs – Festival Internacional de Quadrinhos -, voltou a estudar Elaboração de Roteiro, Ilustração e Arte Sequencial na saudosa Escola Planet Comics, permanecendo lá por dois anos. O ano de 2008 marca seu ingresso no curso regular de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, o quadrinista leciona métodos e abordagens de elaboração de roteiro de histórias em quadrinhos no Centro de Extensão da Faculdade de Letras da UFMG.

PIERO BAGNARIOL é quadrinista e trabalha com arte-educação. Foi coordenador de arte do projeto Guernica (2000-2004), coordenador pedagógico da escola Giramundo (2005) e do Programa para Jovens (2006). Realizou leiaute das exposições do II FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos (2001) e curadoria da Exposição Histórica da Bienal de Graffiti de Belo Horizonte (2008). Editor da revista Graffitie 76% Quadrinhos, publicou, com Fabiano Barroso, o livro Guia Ilustrado de Graffiti e Quadrinhos (2004) e a graphic novel Um dia de morte (2007). Com seu pai, Giuseppe Bagnariol, produziu a Divina Comédia em quadrinhos, Editora Peirópolis (2011).

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