Alice Bicalho representando Angela Lago e RHJ na feira do livro de PoA


No dia 4 de novembro, às 18h30, aconteceu a homenagem às ilustradoras Ana Raquel, Angela-Lago e Eva Furnari durante a programação da mostra Traçando Histórias. A mesa-redonda contou com a própria Ana Raquel, Alice Bicalho, supervisora editoral da editora RHJ (que publica as obras de Angela), e com os escritores e ilustradores Odilon Moraes (falando sobre Eva) e Roger Mello (mediador).

Mello abriu os trabalhos ressaltando que estas três escritoras homenageadas criam personagens de maneira muito brasileira. “Elas não querem puxar as atenções para o próprio quintal, mas sim levar o Brasil para o mundo. Falam para as crianças brasileiras entenderem, numa literatura feita no contexto desse leitor”, destacou o mediador.

As três ilustradoras transitam entre as artes plásticas e a literatura. Ana Raquel, por exemplo, se nomeia uma “iluscritora”. “Sempre escrevi muito, mas achava que o meu meio de falar era a imagem. Agora, desembestei a escrever. Então, sou iluscritora – meio ilustradora, meio escritora”, comentou Ana.

Alice trouxe um texto e uma apresentação preparados por Angela-Lago. “No papel, tudo é ficção”, leu a editora, repassando as palavras de Angela. Nas telas apresentadas e nas palavras que a autora deixou, ficou claro que Angela se interessa pelos desenhos de crianças, que, segundo ela, são mais contundentes. Também, diversas amostras de desenhos foram trazidos, demonstrando uma característica importante da autora: a ilustração sob o ponto de vista do narrador visual. Assim, em um livro que tinha como protagonista um velhinho, as ilustrações tinham o traço trêmulo. Também, o uso da ilustração para frisar a materialidade do livro, a imagem enfatizando a narrativa e as metáforas nos desenhos para causar estranhamento são marcas de Angela-Lago.

Sobre Eva Furnari, Odilon Moraes falou da linha lúdica que caracteriza todo o conjunto do trabalho da autora, que é uma das mais premiadas e reconhecidas internacionalmente.

Saiba mais sobre as autoras:

Ana Raquel 

“Neste país das maravilhas, sou a bruxa Raculé. Vivo entre linhas e letras, pintando e bordando histórias, fora outras matrifusias visuais que tenho inventado. Mas meu nome mesmo é Ana Raquel, ilustradora. Literatura infantil é minha praia há quase 27 anos, além dessas de Trancoso/BA, onde moro atualmente.


Sou do tempo (setembro de 50) em que livro era impresso letrinha por letrinha, em preto no branco. Pra ilustrar, invoco Gutemberg, o da tipografia, lembra? Já pensou... Ele perdido numa lojinha virtual, ‘dando com os livros n’água’ ( risos), num tal de Submarino, sem entender onde enfiaram toda a parafernália que ele teve tanto trabalho pra inventar?... Pirava, né não?”




Angela-Lago 

Nasceu e mora em Belo Horizonte. É formada em Serviço Social e dedica-se, desde 1980, a escrever e ilustrar para crianças. Tem mais de 40 livros publicados e, por oito vezes, venceu o Prêmio Jabuti (http://www.cbl.org.br/jabuti/). De grande prestígio internacional, a autora já ganhou outros prêmios como o “Octogone de Fonte” (França), o “Premio Iberoamericano de Ilustración” (Espanha) e o “BIB Plaque” (Eslováquia). 

Aos 63 anos, ela não se cansa de produzir, de contar histórias através de textos e ilustrações, e agora dedica boa parte do seu tempo ao site, um espaço de experimentações que disponibiliza jogos, sons e brincadeiras para crianças e adultos que se interessem por arte, magia e ternura.



Eva Furnari - Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil em 1950, radicando-se em São Paulo. Formada em Arquitetura, é escritora e ilustradora de livros infantis desde 1980. Tem mais de 50 livros publicados no Brasil e em países da América Latina. Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre eles, o Jabuti de melhor ilustração em 1991. Por diversas vezes recebeu prêmios da FNLIJ e da APCA recebeu o prêmio pelo conjunto da obra.

Eva Furnari - Uma das principais figuras da literatura para crianças, Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil em 1950, radicando-se em São Paulo. Desde muito jovem, sua atração eram os livros de estampas.

Suas habilidades criativas encaminharam-na, primeiramente, ao universo das Artes Plásticas expondo, em 1971, desenhos e pinturas na Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna, em uma mostra individual. Participou de muitas outras exposições, Museu Lasar Segall, 1974; Pod Minoga Studio, 1978; MASP, 1980, entre diversos lugares. Paralelamente, cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, formando-se no ano de 1976.

Iniciou sua carreira como autora e ilustradora, publicando histórias sem texto verbal, isto é, contadas apenas por imagens. Seu primeiro livro foi lançado pela Ática, em 1980, Cabra-cega, inaugurando a coleção Peixe Vivo, premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ.

No ano seguinte, Eva Furnari passava a colaborar com Folhinha de S. Paulo com suas Historinhas, definitivamente adotando a linha lúdica que caracteriza todo o conjunto de seu trabalho. Com suas narrativas "mudas", Eva era responsável por uma coluna de meia página, ao lado de Luís Camargo. Nas páginas do suplemento infantil, nasce a querida e desastrada Bruxinha com suas mágicas divertidíssimas. Nessa época, também aparecem Filomena e os Trapalhudinhos.

Ao longo de sua carreira, Eva Furnari recebeu muitos prêmios, entre eles contam o Jabuti de "Melhor Ilustração" - Trucks (Ática, 1991), A bruxa Zelda e os 80 docinhos (1986) e Anjinho (1998) - setes láureas concedidas pela FNLIJ e o Prêmio APCA pelo conjunto de sua obra.

Trabalho escolar sobre o livro "Animais"


O livro Animais de Ingrid B. Bellinghausen é uma adaptação da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela Unesco, em janeiro de 1978. As ilustrações – feitas em materiais biodegradáveis – dialogam com os leitores, mostrando que a relação saudável e de mútuo respeito entre o homem e as outras espécies de animais é necessária e possível.


A partir da leitura do texto em sala de aula podemos refletir se os direitos dos animais são realmente respeitados no dia-a-dia; podemos pesquisar sobre outros direitos, como os direitos das crianças e dos adolescentes, direitos humanos, etc. e criar imagens usando a criatividade utilizando materiais recicláveis, como jornais, revistas, palitos de picolé, copos descartáveis...

Veja só o que os estudantes do 3º ano do 1º ciclo da E.M. Maria de Magalhães Pinto sob orientação da professora Andréa Cassia fizeram:










Blog - Nas Trilhas da Literatura

Em seu blog “Nas trilhas da Literatura”, Neide Santos, especialista em Literatura pela UFPE analisa a obra de Angela-Lago, mais especificamente o livro Marginal à esquerda, recentemente premiado pela FNLIJ e pela ABL. Vale a pena ler: Nas Trilhas da Literatura.

Entrevista com autor e ilustrador Mario Vale


RHJ: Mario Vale conte um pouco da sua trajetória profissional como escritor e artista plástico? 
MarioVale: Nasci em uma família de muitos irmãos e meus pais nos educaram de uma forma bem cooperativa. A gente dividia as responsabilidades e as diversões e a solidariedade era importante pra manutenção de todos, principalmente nas horas das refeições. No mais, a minha casa era um imenso parque de diversões. Tinha marcenaria, laboratório de fotografia, orquidário e alguns bichos, como quati, bicho preguiça, tartaruga, cachorro. 

Passarinho na gaiola não tinha. Tinha até papagaio. Falando em papagaio, a gente fazia papagaios (pipas) e manivelas e eles voavam bem alto. No lugar que eu morava, a rua era cheia de amigos e a gente jogava bente altas, finca, pega ladrão e lutava espadas. Ahhh... tinha também na minha casa uma coisa muito importante: uma grande biblioteca. Meu pai e minha mãe liam muito e a gente ficava lendo, entre outras coisas, As Aventuras de Sherlock Holmes de Conan Doyle, Tesouro da Juventude e um tanto de outros livros. 


Tinha também uma grande coleção de revistas em quadrinhos e a gente lia tanto que esquecia de fazer outras coisas. Uma dia, minha mãe mandou guardar os gibis sobre o teto de casa, pra gente dar um tempo de “quadrinhos” e dedicar mais aos estudos da escola. Acontecia que nós nos trancávamos no quarto que dava pro teto e subíamos até a abertura que dava pro telhado, e eu ficava lá um bom tempo lendo Flecha Ligeira, Tom Mix, Tarzan, Príncipe Valente, Bolinha (o meu ídolo) e Luluzinha, e ainda as revistas de Walt Disney, o Pateta, Pluto, Mickey, Pato Donald e várias outras. Então, no meio dessa coisa toda, eu gostava muito de escrever e desenhar as minhas histórias e embora não fosse um bom aluno na escola, eu gostava muito de literatura. 

O meu pai, percebendo este meu lado artístico, me incentivava bastante, me mostrando um tanto de coisas, como desenhos que se formavam nas paredes, nas pedras das casas, etc. Um dia, meu pai – que era jornalista, me levou no jornal e abriu espaço para eu publicar meus desenhos. Quando tive meus filhos e eles eram pequenos, eu ficava contando pra histórias eles dormirem. Quando eu não tinha mais histórias pra cotar, eu ficava inventando outras. Algumas eu transformei em livros e foi assim que comecei a minha carreira de escritor.

RHJ: Em Passarolindo, um menino descalço se torna amigo de um passarinho que vive num sapato. Curiosamente, após ajudar o amigo, o menino volta a colocar o sapato no mesmo lugar e este continua a ser o ninho do passarinho. Além de Passarolindo há, na sua obra, outros títulos, como Bzzz Bzzz, que abordam questões ecológicas. Como você pensa a amizade do homem com os outros seres vivos no mudo contemporâneo? 

MV: O crescimento populacional gerou um tanto de problemas para os habitantes da Terra. Cada ser humano precisa de uma grande quantidade de água e também de alimentos para sobreviver. Cada habitante gera uma quantidade grande de lixo. As cidades precisam gerar uma grande produção de bens para o consumo da população. Então novas fábricas são construídas e tem que haver grande produção de alimentos para todos. 

Quanto mais gente nasce, mais as cidades têm que aumentar a produção de alimentos, roupas, sapatos, automóveis e máquinas de todos os tipos para atender ás necessidades da população. Então, quanto mais progresso, mais indústrias e consequentemente, mais lixo e mais poluição. Os homens conseguem dar um jeito de continuar vivendo o meio dessa confusão toda, mas os animais acabam sendo vítimas deste processo “muito louco” de sobrevivência. 

Por isso, a minha preocupação com os animais do planeta. Assim, passo grande parte do meu tempo tentando ajudar as pessoas a pensarem nos problemas de sobrevivência dos animais a nossa volta: os peixes, os pássaros, gatos e cães, a girafa, o leão, o veado, a vaca, a galinha e o macaco e etc., dependem da nossa ajuda para sobreviver. Temos então que ser amigos deles.

RHJ: Como a literatura pode atuar em relação a esta amizade?

MV: Através da literatura, podemos contar histórias que nos aproximam da realidade do reino animal. Através das histórias, mostramos como são bonitos os bichos e como eles são importantes para os, como são “inteligentes”, espertos, solidários, amigos e como conseguem sobreviver em harmonia neste mundo de tantas espécies. Finalizando, você sabia que o melhor amigo do homem é o animal?