"Por Parte de Pai" no PNBE 2011

Esta semana foram divulgados, no Diário Oficial da União, os livros selecionados pelo Programa Nacional Biblioteca da EscolaPNBE 2011.

As obras escolhidas serão distribuídas às escolas públicas federais, das redes de ensino municipais e estaduais, que ofereçam os anos finais do ensino fundamental e/ou ensino médio. A RHJ está mais uma vez presente nessa lista. O livro Por Parte de Pai, de Bartolomeu Campos de Queirós é um dos selecionados.

Veja a lista completa clicando aqui.

Saiba maisPor Parte de PaiBartolomeu Camposde Queirós

Entrevista com o escritor Marcelo Ribeiro Leite de Oliveira

Boa Tarde Leitores, Nessa entrevista, conversamos com o autor Marcelo Ribeiro Leite de Oliveira sobre seu primeiro livro publicado, Salada de Frutas. Confira: 

RHJ: Marcelo, conte um pouco da sua trajetória profissional como químico e escritor?

Marcelo Ribeiro: Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de participar dessa iniciativa da editora RHJ. É muito importante o estabelecimento novos canais de divulgação da cultura para que as pessoas tenham maior possibilidade de acesso à informação e ao lazer. Nasci em Ituiutaba, Minas Gerais. Sou professor de química na Universidade Federal de Viçosa, mas iniciei minha carreira na Universidade Federal de Ouro Preto, no penúltimo dia de 1989. 

Como o meu primeiro livro foi publicado em 1990, minhas duas atividades profissionais começaram praticamente ao mesmo tempo a até hoje correm paralelas. De lá para cá ministrei aulas, pesquisei novas substâncias, envolvi-me em projetos de divulgação científica, dei palestras e publiquei sete livros de literatura: Salada de frutas, Catapora e Certos Nomes (RHJ), A reunião dos planetas e Nós e os bichos (Cia das Letras), O sumiço da elefanta e o Roubo da estátua de Ganesh (FTD). 

Atualmente estou muito concentrado em divulgação científica e literatura. Meu próximo projeto é escrever e publicar uma série de crônicas inspiradas nos elementos químicos, fazendo a união da literatura com a química.

RHJ: Saladas de frutas completa vinte anos de sua primeira edição em 2010 e foi seu primeiro livro publicado. Gostaríamos que o senhor nos falasse um pouco sobre a relação deste livro com sua profissão de químico e como o senhor lê este livro hoje em dia. 

MR: Esses vinte anos passaram rápido. Acho o Salada de frutas ainda muito atual. Observo isso nas palestras que faço e no contato com os leitores. Lembro-me agora de uma vez em que eu estava numa rua de Viçosa e uma menininha perguntou: “Você é que é o Marcelo Ribeiro Leite de Oliveira?” Respondi que sim e ela se apresentou: “Você se lembra de mim? Eu sou a Uva.” Na semana anterior eu havia assistido em sua escola um teatrinho inspirado no livro.

Esse retorno dos leitores me deixa muito satisfeito e seguro de que acertei ao escrever o livro. Não acho que exista uma relação especificamente com a química neste caso. Mas existe uma relação com as minhas atividades de ensino. Ao escrever o livro preocupei-me em torná-lo divertido (e para isso muito contribuíram as ilustrações da Márcia Franco), mas, além disso, quis ensinar alguma coisa interessante sobre as frutas (mania de professor).

RHJ: Marcelo, os livros que o senhor já publicou pela RHJ são todos escritos em versos. Todos com certa dose de humor. Conte-nos um pouco sobre sua relação com poesia e nos diga o que o senhor pensa da importância da poesia na vida das pessoas e em especial das crianças.

MR: A poesia é extremamente importante na vida das pessoas. Se não fosse, não estaria nas cantigas de ninar ou nas brincadeiras de criança. O ritmo e a rima nos atraem desde muito cedo. Hoje existe grande diversificação nas formas de lazer. É natural que a televisão e a internet, por exemplo, ganhem um espaço cada vez maior e tomem um pouco do tempo de leitura. As aventuras, as histórias engraçadas e a força das imagens são muito atraentes. Mas na poesia também há tudo isso. Só que é preciso algum treinamento para descobrir.

Para saber se gostamos ou não gostamos de algo precisamos entender. Quem não entende o mínimo das regras do futebol, por exemplo, será incapaz de apreciar as sutilezas de uma boa jogada. Algo semelhante acontece com a poesia. É preciso o hábito de ler. No caso das crianças isso é responsabilidade das escolas, mas, principalmente, dos pais. Leia de vez em quando com seu filho. Você verá como ele ficará feliz e, de quebra, mais inteligente, informado e preparado para a vida. Sou daqueles que acham que, quanto mais as pessoas gostarem de poesia, melhor ficará o mundo.





Saiba maisMarcelo Ribeiro Leite de OliveiraSalada de FrutasCataporaCertos Nomes

Entrevista com Fábio Amaro

O escritor Fábio Amaro fala sobre sua obra Uma história de Arrepiar. Confira na entrevista abaixo:

RHJ: Fábio Amaro, conte um pouco da sua trajetória profissional como jornalista e escritor? 

Fábio Amaro: Olá a todos leitores do blog da RHJ. Muito obrigado pela oportunidade. É um prazer poder participar deste “encontro” online e, claro, através da obra Uma História de Arrepiar. Esta, aliás, foi a minha primeira obra, eu tinha, se não me engano, 13 ou 14 anos de idade, quando foi publicada. A minha gratidão imensa à RHJ, pois dali em diante tive outros livros lançados, e ainda ingressei no ramo do jornalismo, acadêmico e profissional. E, com certeza, a publicação do primeiro livro foi o impulso para toda a sequência de meus estudos e trabalhos. 

Hoje, tenho 32 anos e vivo na cidade de Nova York (desde o ano de 2001). Sou formado em Jornalismo (pela UNI-BH), e atuei como correspondente internacional do jornal Hoje em Dia nos Estados Unidos por, praticamente, 9 anos. A cobertura da tragédia do World Trade Center foi o começo e também o meu maior e mais intenso trabalho realizado até agora. Além do Hoje em Dia, escrevi também para revistas brasileiras, como a Chiques e Famosos e Revista Encontro, cobrindo notícias de Nova York para ambas. 

Em 2008, lancei um jornal nos Estados Unidos, chamado Green Card News, que hoje também tem uma versão publicada mensalmente no Brasil, mais especificamente no estado de Minas Gerais, região do Triângulo Mineiro. Sou autor de 6 livros, sendo que 3 foram lançados pela RHJ. Sou eternamente grato ao Rafael Borges, proprietário da editora, e o considero como o meu padrinho literário. Atualmente, além do jornal Green Card News, trabalho também para um escritório de advocacia em Nova York, que atende a área de imigração.

RHJ: Há dezoito anos a RHJ publicou sua obra Uma História de Arrepiar, pequena ficção que trata de uma viagem no tempo e aponta para sérios problemas de agressão ao meio-ambiente. Você poderia nos falar um pouco sobre o contexto em que a obra foi escrita?

FA: Participei de um concurso de redações entre colégios da cidade de Patos de Minas (onde nasci) e região, e fui classificado entre os melhores textos. A ideia da história partiu da minha própria imaginação, talvez com influência de filmes, de televisão e de algum outro livro que havia visto. A máquina do tempo é interessante, pois dá flexibilidade para o autor "viajar" no texto, poder ir e voltar no tempo, e assim a sequência acaba ficando cativante, intensa e até misteriosa. 

Coincidência que, hoje, no jornal Green Card News, temos uma coluna chamada 'Máquina do Tempo', que exibe fotos de lugares, mostrando como eles eram antes, e como são hoje. Acho que fugir do padrão comum de textos, artigos, estilos de livros e poesias sempre foi o meu estilo. E, acredito, já dava mostras desse diferencial desde os meus 14 anos, quando "lancei" a ideia da máquina do tempo.

RHJ: Como você lê, hoje, a obra Uma História de Arrepiar (tanto em seu aspecto temático quanto literário)? Qual seria, em seu ponto de vista, a relevância desta obra no contexto atual? 

FA: Esse mesmo livro poderia ser lançado hoje, e não há 18 anos, que teria, talvez, o mesmo impacto. A máquina do tempo, na obra, parece que estava realmente certa. Veja, por exemplo, como está o meio ambiente, hoje, no mundo, a começar pelo Brasil, na região da floresta amazônica. Leia e estude sobre o aquecimento global nos dias atuais, no Brasil e no mundo. Essa transformação do homem e do mundo está relacionada diretamente ao capitalismo. 

A competição capitalista e a busca pelos lucros a qualquer custo colocaram a vida do homem e todo o universo em sérios riscos. E, o mais interessante e assustador, é que não há sinais de melhoras. Falo de sinais verdadeiros e significativos. O que há, a meu ver, dos muitos que mencionam em salvar o meio ambiente, não é nada além de pura propaganda. Candidatos políticos, por exemplo, pegam carona nessa de "vamos lutar pelo verde", mas com outras intenções. 

Nos EUA, existe um desses personagens, que agora se tornou até folclórico. No Brasil também há candidatos assim. É preciso haver um pacto mundial, reunindo as maiores lideranças e autoridades de todas as nações, junto a organizações que lutam pela humanidade, para discutirem e olharem o futuro do meio ambiente e do universo. Não sei por onde começar. É difícil. É preciso reunir várias mentes internacionais pensantes e atuantes, e com boas intenções, para buscar soluções. Hoje, o futuro do mundo está cada vez mais próximo do que mostra o final do livro Uma história de arrepiar.

Saiba maisFábio AmaroUma História de Arrepiar

A Oralidade Na Sala De Aula: Para Não Deixar Calar As Vozes Do Leitor

Texto de Lucia Fidalgo

"Dizem que as mulheres sem maridos apareciam na beira do Rio Amazonas para escravizar os homens desejados por elas. Os índios as chamavam de “Icamiabas”. Eram mulheres lindas, altas, esbeltas, formosas… Seus longos cabelos negros eram trançados em volta da cabeça. 

Viviam em grupos formando uma nação independente e dominadora e só formada por mulheres. Mulheres… Belas mulheres que possuíam escravos de várias tribos indígenas. Em casas feitas de pedra e cercadas de muros altos viviam resistentes e intocáveis. Mulheres corajosas eram essas, ágeis e terríveis… mulheres guerreiras. 

Lutavam com valentia e ferocidade. Manejavam o arco e a flecha com extrema perícia. Quando lutavam, atacavam tribos vizinhas e escravizavam os homens que eram muito castigados, porém as mulheres da tribo nada sofriam. 

Mas como tudo tem seus dias de calmaria, uma vez por ano elas se casavam com “índios guacaris”. Dessa forma evitavam que a tribo desaparecesse. Porém o casamento durava só um dia, para que pudessem engravidar dos seus maridos. 

Quando nasciam meninas, todas eram criadas como rainhas, para que pudessem manter as tradições das “Icamiabas”. Porém, quando por azar do destino eram meninos que nasciam, estes eram cruelmente sacrificados, ou entregues aos seus pais quando por lá apareciam. 

Mas era quando Jaci, a lua, aparecia junto à cabeceira do rio, que as mulheres sem maridos dançavam, cantavam e faziam oferendas coroando-se com flores em uma bela dança selvagem. A festa acontecia sempre antes do casamento e antes que a lua atingisse o alto do céu, as “Icamiabas” iam até o lago com potes de perfumes que derrubavam na água para purificá-la. E à meia-noite mergulhavam no fundo do lago e de lá traziam uma terra verde, com a qual modelavam rãs, peixes e tartarugas. Esses bichos viravam amuletos da sorte, chamados “Muiraquitã”. 

Os Muiraquitãs depois de secos e endurecidos eram oferecidos aos “índios guacaris”que os penduravam em seus pescoços para terem muita sorte. 

Assim os homens com seus amuletos no pescoço fugiam para bem longe dessas mulheres… belas… cheias de coragem… e sonhavam com o dia em que novamente poderiam encontrá-las para serem amados por durante uma longa noite de amor na beira do rio Jamundá, o grande espelho da lua..."

Essa é uma lenda de origem amazônica, recontada com minhas palavras e com algumas reticências. Inicio esse texto com uma história, para trazer a questão da oralidade na sala de aula. A importância do trabalho com a oralidade fica clara para quem compreende que ela pode contribuir também para a formação do leitor. Não digo que ela seja a única e mágica forma de se fazer isso, mas é um caminho para uma aproximação entre leitor e livro, ou outro objeto de leitura que próximo dele esteja. Aprender a atuar com várias linguagens e com a oralidade é dar voz ao silêncio calado que impera muitas vezes nas escolas.

Quando falo em oralidade, não falo apenas de traços presentes nas histórias escritas em papel ou das histórias contadas de boca em boca, mas falo também das histórias anônimas de alunos feitas com palavras que querem, muitas vezes, gritar por socorro. Há histórias dentro deles que a escola não conhece, às vezes não aproveita e não faz delas exercícios de escuta do que o outro tem a dizer, mas sim do que o aluno aprendeu – ou não - a escrever, privilegiando a escrita sobre a oralidade.

Privilegiar a escrita pode significar manter postura repressiva sobre as falas,ou mesmo não entender que falar e escrever são práticas que se completam e andam juntas na formação e no entendimento do aluno leitor –esse aluno que ao entrar na escola traz um acervo constituído ou em processo, mas que não pode ser menosprezado na sua formação e no seu entendimento do mundo. E Paulo… o Freire, disse tanto sobre a leitura desse mundo. Mas há tantos Paulos que querem dizer e ninguém escuta.

Cabe, então, à escola pensar em ações pedagógicas que respeitem a expressão oral trazida pelos alunos, e que se adequem aos conhecimentos necessários para a realização das atividades didáticas propostas por ela. Não quero defender aqui a escolarização da leitura, mas quero sim uma leiturização da escola. Ver nascer uma escola que lê, e que também é lida por seus alunos, professores, serventes, inspetores.

Descobrir onde foi que essa escola se calou, onde foi que ela aprisionou os seus desejos…Conceituar os fenômenos da linguagem, pensar sobre isso para entender os silêncios pré-estabelecidos e as línguas que desapareceram, melhorando assim a capacidade de compreensão e expressão do universo escolar. Dizem que quando o livro fez sua primeira aparição, Sócrates rejeitou-o por considerá-lo inferior à conversação.

Mesmo assim o livro chegou, não apagou a palavra, não silenciou o discurso, mas sim o ampliou, não houve morte alguma. Outros produtos industriais chegaram e chegam todos os dias. Há uma diversidade de suportes para carregar as palavras; novas tecnologias batem em nossas portas sem que a gente tenha tempo de decifrar cada uma delas. Mesmo assim as conversações continuam, as vozes voam longe, mesmo que algo queira por alguns instantes calá-las.

Talvez seja a força das Icamiabas que, com os muiraquitãs, possa espalhar a coragem pelos guerreiros que estão por aí lutando. Chamo aqui de guerreiros os professores, mediadores de leitura, que não podem dar mais do que tem, mas podem se entender também como leitores, entender que os leitores nunca deixam de nos surpreender e podem, em suas leituras, encontrar suas fantasias inventivas, se deixando levar pelas águas dos rios perfumados pelas Icamiabas, embalados pelo desejo de um novo encontro de amor entre o leitor e suas leituras.

Lúcia Fidalgo escreveu a obra Passo a passo no compasso publicada pela RHJ. Segundo a autora "No livro Passo a passo no compasso, de Lúcia Fidalgo, o cenário da sala de aula com seus conflitos e diferenças vai sendo contado pelo olhar do aluno criador que tenta falar sobre talentos diversos na sala de aula e sobre como é importante o professor reconhecer isso e perceber que a sala de aula é um caleidoscópio de idéias pensantes e pulsantes. Comparações entre os diferentes talentos não devem existir, pois viva a diferença!"

Saiba maisLúcia Fidalgo

Premição do livro Marginal à Esquerda na ABL

Como já havíamos informado, o livro Marginal à Esquerda de Angela-Lago foi premiado na categoria Melhor Livro Infantil e Juvenil de 2010 pela Academia Brasileira de Letras. 

No dia 20 de julho estivemos presentes na sessão comemorativa do 113º aniversário da ABL e da entrega dos prêmios literários. Como, por motivos de saúde, a autora não pode estar presenta na premiação*, nossa editora assistente, Alice Bicalho, recebeu a premiação pelas mão do Acadêmico Arnaldo Niskier (foto)

A sessão solene foi presidida pelo Acadêmico e presidente Marcos Vinicios Vilaça e teve o Acadêmico José Murilo de Carvalho como orador oficial.

 
(Foto: Carlos Alberto Moisés)

Abaixo o texto enviado por Angela-Lago como agradecimento à premiação:

"Boa tarde senhores membros da academia brasileira de letras, boa tarde senhores e senhoras presentes. Obrigada. Estar ao lado de grandes escritores e escritoras reconhecidos por esta importante instituição me deixa muito honrada. Uma premiação é também a alegria de comemorar o acaso feliz de um livro que parece se encaminhar para encontrar seus leitores. E, portanto, graça e contentamento. É o que quero compartilhar com vocês esta tarde. Muito, muito obrigada". Angela-lago, escritora e ilustradora.

Saiba maisArnaldo Niskier

Alice Bicalho representando Angela Lago e RHJ na feira do livro de PoA


No dia 4 de novembro, às 18h30, aconteceu a homenagem às ilustradoras Ana Raquel, Angela-Lago e Eva Furnari durante a programação da mostra Traçando Histórias. A mesa-redonda contou com a própria Ana Raquel, Alice Bicalho, supervisora editoral da editora RHJ (que publica as obras de Angela), e com os escritores e ilustradores Odilon Moraes (falando sobre Eva) e Roger Mello (mediador).

Mello abriu os trabalhos ressaltando que estas três escritoras homenageadas criam personagens de maneira muito brasileira. “Elas não querem puxar as atenções para o próprio quintal, mas sim levar o Brasil para o mundo. Falam para as crianças brasileiras entenderem, numa literatura feita no contexto desse leitor”, destacou o mediador.

As três ilustradoras transitam entre as artes plásticas e a literatura. Ana Raquel, por exemplo, se nomeia uma “iluscritora”. “Sempre escrevi muito, mas achava que o meu meio de falar era a imagem. Agora, desembestei a escrever. Então, sou iluscritora – meio ilustradora, meio escritora”, comentou Ana.

Alice trouxe um texto e uma apresentação preparados por Angela-Lago. “No papel, tudo é ficção”, leu a editora, repassando as palavras de Angela. Nas telas apresentadas e nas palavras que a autora deixou, ficou claro que Angela se interessa pelos desenhos de crianças, que, segundo ela, são mais contundentes. Também, diversas amostras de desenhos foram trazidos, demonstrando uma característica importante da autora: a ilustração sob o ponto de vista do narrador visual. Assim, em um livro que tinha como protagonista um velhinho, as ilustrações tinham o traço trêmulo. Também, o uso da ilustração para frisar a materialidade do livro, a imagem enfatizando a narrativa e as metáforas nos desenhos para causar estranhamento são marcas de Angela-Lago.

Sobre Eva Furnari, Odilon Moraes falou da linha lúdica que caracteriza todo o conjunto do trabalho da autora, que é uma das mais premiadas e reconhecidas internacionalmente.

Saiba mais sobre as autoras:

Ana Raquel 

“Neste país das maravilhas, sou a bruxa Raculé. Vivo entre linhas e letras, pintando e bordando histórias, fora outras matrifusias visuais que tenho inventado. Mas meu nome mesmo é Ana Raquel, ilustradora. Literatura infantil é minha praia há quase 27 anos, além dessas de Trancoso/BA, onde moro atualmente.


Sou do tempo (setembro de 50) em que livro era impresso letrinha por letrinha, em preto no branco. Pra ilustrar, invoco Gutemberg, o da tipografia, lembra? Já pensou... Ele perdido numa lojinha virtual, ‘dando com os livros n’água’ ( risos), num tal de Submarino, sem entender onde enfiaram toda a parafernália que ele teve tanto trabalho pra inventar?... Pirava, né não?”




Angela-Lago 

Nasceu e mora em Belo Horizonte. É formada em Serviço Social e dedica-se, desde 1980, a escrever e ilustrar para crianças. Tem mais de 40 livros publicados e, por oito vezes, venceu o Prêmio Jabuti (http://www.cbl.org.br/jabuti/). De grande prestígio internacional, a autora já ganhou outros prêmios como o “Octogone de Fonte” (França), o “Premio Iberoamericano de Ilustración” (Espanha) e o “BIB Plaque” (Eslováquia). 

Aos 63 anos, ela não se cansa de produzir, de contar histórias através de textos e ilustrações, e agora dedica boa parte do seu tempo ao site, um espaço de experimentações que disponibiliza jogos, sons e brincadeiras para crianças e adultos que se interessem por arte, magia e ternura.



Eva Furnari - Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil em 1950, radicando-se em São Paulo. Formada em Arquitetura, é escritora e ilustradora de livros infantis desde 1980. Tem mais de 50 livros publicados no Brasil e em países da América Latina. Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre eles, o Jabuti de melhor ilustração em 1991. Por diversas vezes recebeu prêmios da FNLIJ e da APCA recebeu o prêmio pelo conjunto da obra.

Eva Furnari - Uma das principais figuras da literatura para crianças, Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil em 1950, radicando-se em São Paulo. Desde muito jovem, sua atração eram os livros de estampas.

Suas habilidades criativas encaminharam-na, primeiramente, ao universo das Artes Plásticas expondo, em 1971, desenhos e pinturas na Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna, em uma mostra individual. Participou de muitas outras exposições, Museu Lasar Segall, 1974; Pod Minoga Studio, 1978; MASP, 1980, entre diversos lugares. Paralelamente, cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, formando-se no ano de 1976.

Iniciou sua carreira como autora e ilustradora, publicando histórias sem texto verbal, isto é, contadas apenas por imagens. Seu primeiro livro foi lançado pela Ática, em 1980, Cabra-cega, inaugurando a coleção Peixe Vivo, premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ.

No ano seguinte, Eva Furnari passava a colaborar com Folhinha de S. Paulo com suas Historinhas, definitivamente adotando a linha lúdica que caracteriza todo o conjunto de seu trabalho. Com suas narrativas "mudas", Eva era responsável por uma coluna de meia página, ao lado de Luís Camargo. Nas páginas do suplemento infantil, nasce a querida e desastrada Bruxinha com suas mágicas divertidíssimas. Nessa época, também aparecem Filomena e os Trapalhudinhos.

Ao longo de sua carreira, Eva Furnari recebeu muitos prêmios, entre eles contam o Jabuti de "Melhor Ilustração" - Trucks (Ática, 1991), A bruxa Zelda e os 80 docinhos (1986) e Anjinho (1998) - setes láureas concedidas pela FNLIJ e o Prêmio APCA pelo conjunto de sua obra.

Trabalho escolar sobre o livro "Animais"


O livro Animais de Ingrid B. Bellinghausen é uma adaptação da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela Unesco, em janeiro de 1978. As ilustrações – feitas em materiais biodegradáveis – dialogam com os leitores, mostrando que a relação saudável e de mútuo respeito entre o homem e as outras espécies de animais é necessária e possível.


A partir da leitura do texto em sala de aula podemos refletir se os direitos dos animais são realmente respeitados no dia-a-dia; podemos pesquisar sobre outros direitos, como os direitos das crianças e dos adolescentes, direitos humanos, etc. e criar imagens usando a criatividade utilizando materiais recicláveis, como jornais, revistas, palitos de picolé, copos descartáveis...

Veja só o que os estudantes do 3º ano do 1º ciclo da E.M. Maria de Magalhães Pinto sob orientação da professora Andréa Cassia fizeram:










Blog - Nas Trilhas da Literatura

Em seu blog “Nas trilhas da Literatura”, Neide Santos, especialista em Literatura pela UFPE analisa a obra de Angela-Lago, mais especificamente o livro Marginal à esquerda, recentemente premiado pela FNLIJ e pela ABL. Vale a pena ler: Nas Trilhas da Literatura.

Entrevista com autor e ilustrador Mario Vale


RHJ: Mario Vale conte um pouco da sua trajetória profissional como escritor e artista plástico? 
MarioVale: Nasci em uma família de muitos irmãos e meus pais nos educaram de uma forma bem cooperativa. A gente dividia as responsabilidades e as diversões e a solidariedade era importante pra manutenção de todos, principalmente nas horas das refeições. No mais, a minha casa era um imenso parque de diversões. Tinha marcenaria, laboratório de fotografia, orquidário e alguns bichos, como quati, bicho preguiça, tartaruga, cachorro. 

Passarinho na gaiola não tinha. Tinha até papagaio. Falando em papagaio, a gente fazia papagaios (pipas) e manivelas e eles voavam bem alto. No lugar que eu morava, a rua era cheia de amigos e a gente jogava bente altas, finca, pega ladrão e lutava espadas. Ahhh... tinha também na minha casa uma coisa muito importante: uma grande biblioteca. Meu pai e minha mãe liam muito e a gente ficava lendo, entre outras coisas, As Aventuras de Sherlock Holmes de Conan Doyle, Tesouro da Juventude e um tanto de outros livros. 


Tinha também uma grande coleção de revistas em quadrinhos e a gente lia tanto que esquecia de fazer outras coisas. Uma dia, minha mãe mandou guardar os gibis sobre o teto de casa, pra gente dar um tempo de “quadrinhos” e dedicar mais aos estudos da escola. Acontecia que nós nos trancávamos no quarto que dava pro teto e subíamos até a abertura que dava pro telhado, e eu ficava lá um bom tempo lendo Flecha Ligeira, Tom Mix, Tarzan, Príncipe Valente, Bolinha (o meu ídolo) e Luluzinha, e ainda as revistas de Walt Disney, o Pateta, Pluto, Mickey, Pato Donald e várias outras. Então, no meio dessa coisa toda, eu gostava muito de escrever e desenhar as minhas histórias e embora não fosse um bom aluno na escola, eu gostava muito de literatura. 

O meu pai, percebendo este meu lado artístico, me incentivava bastante, me mostrando um tanto de coisas, como desenhos que se formavam nas paredes, nas pedras das casas, etc. Um dia, meu pai – que era jornalista, me levou no jornal e abriu espaço para eu publicar meus desenhos. Quando tive meus filhos e eles eram pequenos, eu ficava contando pra histórias eles dormirem. Quando eu não tinha mais histórias pra cotar, eu ficava inventando outras. Algumas eu transformei em livros e foi assim que comecei a minha carreira de escritor.

RHJ: Em Passarolindo, um menino descalço se torna amigo de um passarinho que vive num sapato. Curiosamente, após ajudar o amigo, o menino volta a colocar o sapato no mesmo lugar e este continua a ser o ninho do passarinho. Além de Passarolindo há, na sua obra, outros títulos, como Bzzz Bzzz, que abordam questões ecológicas. Como você pensa a amizade do homem com os outros seres vivos no mudo contemporâneo? 

MV: O crescimento populacional gerou um tanto de problemas para os habitantes da Terra. Cada ser humano precisa de uma grande quantidade de água e também de alimentos para sobreviver. Cada habitante gera uma quantidade grande de lixo. As cidades precisam gerar uma grande produção de bens para o consumo da população. Então novas fábricas são construídas e tem que haver grande produção de alimentos para todos. 

Quanto mais gente nasce, mais as cidades têm que aumentar a produção de alimentos, roupas, sapatos, automóveis e máquinas de todos os tipos para atender ás necessidades da população. Então, quanto mais progresso, mais indústrias e consequentemente, mais lixo e mais poluição. Os homens conseguem dar um jeito de continuar vivendo o meio dessa confusão toda, mas os animais acabam sendo vítimas deste processo “muito louco” de sobrevivência. 

Por isso, a minha preocupação com os animais do planeta. Assim, passo grande parte do meu tempo tentando ajudar as pessoas a pensarem nos problemas de sobrevivência dos animais a nossa volta: os peixes, os pássaros, gatos e cães, a girafa, o leão, o veado, a vaca, a galinha e o macaco e etc., dependem da nossa ajuda para sobreviver. Temos então que ser amigos deles.

RHJ: Como a literatura pode atuar em relação a esta amizade?

MV: Através da literatura, podemos contar histórias que nos aproximam da realidade do reino animal. Através das histórias, mostramos como são bonitos os bichos e como eles são importantes para os, como são “inteligentes”, espertos, solidários, amigos e como conseguem sobreviver em harmonia neste mundo de tantas espécies. Finalizando, você sabia que o melhor amigo do homem é o animal?

Livros da RHJ em Kits literários

Os livros Marionete - Mario Vale e Ar - Ingrid B. Bellinghausen foram selecionados para compor o Kit Literário da Prefeitura de Belo Horizonte. Marionete, ao lado de Bráulio, o livro em branco - Celso Vieira - também foi selecionado para compor o Kit literário de Contagem! Parabéns aos autores!

Entrevista com o autor Sebastião Nuvens

Desta vez é o poeta Sebastião Nuvens, Tião Nunes ou Sebastião Nunes que nos fala um pouco sobre literatura e sobre sua obra infantil O Peru que nasceu 30 dias antes do Natal. Confira um pouco sobre a obra e a vida do autor.

RHJ: Sebastião Nunes contar um pouco da sua trajetória profissional como escritor, editor e artista gráfico? 

Sebastião Nunes: Desde os 9 anos gosto de escrever e desenhar. Pintei quadros, fiz charges, escrevi peças e contos. Mas nada deu certo. Até que optei por escrever poesia, que me ocupou durante uns 20 anos. Depois passei a publicar prosa satírica e, há uns 15 anos, "achei" a literatura infanto-juvenil. Afinal, tenho cinco filhos e com eles aprendi o lúdico da narrativa infantil. 

Desde essa época, publico livros para adultos e também para crianças. Como não gosto muito de pedir favor, fundei primeiro a Dubolso (1980), editora de literatura adulta, principalmente poesia. Em 2000, com um punhado de autores e ilustradores, fundei a Dubolsinho, que é hoje minha principal atividade. 

Mas os primeiros livros fora publicados pela Editora RHJ (três livros ao todo), aprovados por Angela-Lago e pelo Rafael Andrade. Angela já era minha amiga de muitos anos, e Rafael se tornou amigo a partir daí. Aliás, ele me ajudou muito com dicas e ideias quando do lançamento da Dubolsinho.

RHJ: “Uma história infantil com desenvolvimento juvenil e moral senil, destinada a mal-educar pessoas de todas as idades”. Esta apresentação, presente na capa de O peru que nasceu 30 dias antes do natal parece um bom exemplo de oposição a certo modo de pensar a literatura infantil segundo o qual os livros têm sempre funções específicas como “educar”. Você poderia nos falar um pouco sobre sua posição em relação à literatura infantil? 

SN: Acho que existe muita coisa ruim, ao lado de muita coisa boa, tanto na literatura pra crianças e jovens como para adultos. E não gosto de fazer da literatura uma "arma" de ensinar coisas. A função da literatura – talvez única - é ajudar no desenvolvimento da criatividade, na ampliação do conhecimento do mundo de forma original, de modo que seu principal objetivo é tornar mais clara a inteligência e mais aguçados os meios de compreensão da realidade e do mundo mágico da fantasia, da criatividade linguística e da poesia. Educar nesse caso, seria ajudar a aprimorar os dons intelectuais das crianças, torná-las mais criativas e mentalmente mais saudáveis, mais alegres e criativas.

RHJ: Em O peru que nasceu 30 dias antes do Natal há um narrador que nos deixa a par do que se passa com o personagem, um belo e jovem peru, tanto em relação a suas ações quanto a suas sensações e sentimentos. No final desta história irônica, lemos: “agradecimentos especiais aos alegres coadjuvantes desta alegre história (é claro que pelos padrões humanos)”. A voz do narrador e a constatação dos “padrões humanos” na história de um peru nos permite perguntar: você acha que a literatura é capaz de ir além do humano?

SN: A literatura é capaz de tudo, porque a criatividade não tem limite. Podemos ir - e muitos autores vão - bem fundo na "alma" dos bichos e das coisas, até das pedras. A fantasia permite tudo, como, no caso de minha história, pensar com a cabeça do jovem peru e imaginar o que ele sentiria se pudesse pensar como nós. E nem se trata de discutir crueldade com os animais, pois acho que temos tanta coisa pra discutir (principalmente a violência entre os humanos, limites da educação, formas novas de conhecimento) que não me envolveria em polêmicas desse tipo. Foi apenas uma forma engraçada que achei de mostrar a infelicidade dos perus, pobres coadjuvantes em nossas pouco cristãs festas natalinas.

Livro de imagem Cena de Rua de Angela-Lago: novos olhares para antigas questões

Hanna Talita Gonçalves Pereira de Araújo*
artigo apresentado no III Seminário de Cultura Visual, FAV-UFG

Resumo

Neste trabalho trazemos algumas reflexões acerca do livro de imagem da artista plástica mineira Angela-Lago, denominado Cena de Rua. Em sua narrativa visual, a artista trata poeticamente da questão de crianças em situação de rua. A composição imagética, o domínio técnico, o projeto gráfico e o apurado senso estético da artista foram elementos essenciais na construção de uma das obras de literatura infantil mais premiada no mundo. Pautada na imagem, a artista retoma antigas questões da realidade urbana e nos conduz em sua narrativa visual e faz-nos olhar de outro modo, pelo viés da infância.

Palavras-chave:

Livro-de-imagem;literatura infantil; Angela-Lago; narrativa visual

Introdução

A presença de imagens em livros de literatura infanto-juvenil tem papel importante na constituição de significados entre a literatura e o leitor. A imagem convida o leitor a manusear um livro, assim como um título inusitado de um livro também pode fazê-lo. A imagem nos comunica, ainda que não tenhamos a intenção de sabê-lo. Ao contrário de um texto literário, que exige conhecimento prévio de uma língua para sua leitura, a imagem pode ser apreendida apenas com um passar de olhos e mesmo assim fixar-se na mente de quem vê.
Tratamos da imagem presente nas obras de literatura infantil. Nosso escopo consiste na elaboração do chamado Livro de Imagem, gênero no qual sua narrativa se dá, sobretudo, a partir da composição de imagens em sequência narrativa.

Este trabalho representa um recorte da pesquisa desenvolvida no mestrado junto ao Instituto de Artes da Unicamp, na área das artes visuais, fomentada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Nesta pesquisa buscamos compreender os modos de criação de narrativas visuais, a partir do relato de três artistas plásticos brasileiros que produzem livros de imagem. Para esta apresentação trazemos um dos livros o qual estudamos seu processo de criação: Cena de Rua.

A artista e seu processo de criação

Angela-Lago é, no cenário da literatura infantil, uma das autoras mais respeitadas, tendo como especificidade o fato de ser uma exímia ilustradora. Tendo trinta anos de experiência como autora/ilustradora, Angela-Lago recebeu diversos prêmios na área, tendo seus livros publicados em diversos países.

Por três vezes, foi candidata brasileira ao prêmio Hans Christian Andersen de Ilustração, promovido pelo International Board on Books for Young People (IBBY).

Realizamos entrevista[1] com a artista na qual ela discorreu sobre seus processos de criação e sua concepção de literatura infantil. Todos os demais ilustradores[2] entrevistados se referem à Angela-Lago como alguém com muito conhecimento, tomando-a como referência na luta pela valorização da categoria, seja em questões de qualidade artística e estética, seja pela luta por melhores remunerações dos ilustradores, por questões de qualidade de impressão, tempo de criação, etc.

Sua narrativa sobre seus processos criativos mostraram-nos uma artista inquieta, que busca, através de sua experienciação artística, dialogar com questões concernentes ao universo do ser humano, como sentimento do amor, do envelhecimento, amizade, etc., bem como de reescrever contos tradicionais. Angela explora os temas assim como o faz com as técnicas. Aquarela, acrílica, óleo, photoshop, tablet, fotografia são algumas das estratégias da artista na construção de suas imagens, nas quais fica evidente o domínio da técnica na composição dessa imagem. Conforme o artista percorre sua trajetória artística percebe que a técnica corresponde ao fazer manual, que pode ser aprendido por qualquer pessoa, na cultura em que vive, expressando, assim, certas vivências pessoais que se tornaram possíveis em determinado contexto cultural.
Para Ostrower, a técnica representa um instrumento de trabalho, que o artista precisa conhecer e dominar com plena soberania, mas nas obras de arte, as técnicas acabam se tornando invisíveis sendo absorvidas inteiramente pelas formas expressivas. (1990:18).

Outro ponto relevante no processo de criação da artista é a compreensão do livro enquanto suporte, enquanto substrato da imagem. Angela se apropria do projeto gráfico na construção dos significados de seus livros, ampliando as possibilidades de criação de sentidos com a literatura.

A composição de elementos que desencadeiam uma narrativa exige um conhecimento prévio das estruturas plásticas necessárias, como domínio técnico do fazer artístico, forçosamente. Não obstante, a complexidade da estruturação narrativa, pensando em imagens em sequência narrativa, consiste em um complicado trabalho de artista, detentor de um planejamento espacial, um apurado senso estético, um humor refinado, consciência de seus propósitos educativos, etc.

Cena de Rua: só mais um dia, em uma esquina

O livro brasileiro Cena de Rua é um dos livros de literatura infantil mais premiados no mundo, sendo o único livro brasileiro escolhido na seleção da Abrams Press, de Nova York, dentre os quinze melhores livros de imagens do mundo.

Na composição de imagens narrativas, os artistas inserem elementos que buscam construir significados de leitura, que sustentem a narrativa por imagem. O signo está implícito na composição da imagem e exige um olhar mais atento para que ocorra a significação. Alguns elementos inseridos durante o processo de construção da obra são calcados intencionalmente por eles nas imagens, com a clara distinção que o fazer pode ocasionar/direcionar a leitura da imagem, conduzindo o olhar do leitor. Compreendemos, no entanto, que o artista, quando da produção de suas obras, deixa marcas de diversas naturezas na obra sem que esteja necessariamente consciente destes gestos. As ‘aberturas’ presentes nas imagens convidam os leitores a buscar significados que condizem com sua própria experiência de vida. Os signos têm seus significados firmados no contexto sócio-cultural, mas eles podem ter sentidos diferentes de acordo com sujeito. Vygotsky (2000) distingue dois componentes do significado: um deles é o significado, propriamente dito. O outro aspecto é o sentido. Milhões de pessoas que falam português compartilham o significado de termos da língua portuguesa, a partir da generalização. No entanto, o sentido corresponde ao significado da palavra aliado à experiência vivida em cada subjetividade. Deste modo, o termo rua, por exemplo, tem sentidos diferentes para uma pessoa que a tem apenas como um lugar de passagem: um para quem por ela passa de carro e outro àquele que por ela passa a pé; sentidos diversos de uma pessoa tem a rua como moradia.
O livro Cena de Rua narra, por imagens, o cotidiano de um menino em situação de rua, que vende algo no semáforo. Trazemos neste trabalho cinco imagens desta narrativa visual que é composta por um total de onze imagens.

É noite, cercado por quatro carros verdes com faróis acesos, um menino verde ao centro, com uma caixa com três bolinhas dentro. O menino olha assustado para um motorista vermelho, que revida o olhar de modo agressivo (ilustração 1).

O uso intencional da cor é empregado como recurso narrativo na caracterização dos personagens e na ambientação do espaço da cena, como pode ser observado no início da narrativa. O menino é verde e usa roupas em tons de azul. Tem as pernas tortas e o pescoço inclinado. Não existem delimitações claras entre os elementos da composição, de modo que se mesclam as fronteiras entre o menino e os carros e o escuro da noite. A imagem sem contorno nos remete à falta de visibilidade própria da noite.

























Ilustração1 - 1ª página dupla

Nesta primeira imagem, composta por página dupla, pode-se observar que a artista se apropria da dobra do meio da folha utilizando-a como um suporte para a narrativa. Esta dobra representa, normalmente, um empecilho para o ilustrador, já que a imagem será cortada ao meio. Angela estrutura a imagem de modo que a dobra coincida com as articulações do menino, as quais, no movimento de leitura do livro, a imagem plana desloca-se dando vida ao menino e contribui com a sua atuação na história.

Embora ambos os personagens sejam proporcionais o homem, por ser vermelho, é sobressalente e toma o foco da imagem. O olhar entre os dois é ponto alto da imagem, entre a acusação e o medo, o de dentro e o de fora, o motorista e o pedestre, o adulto e a criança.

Assumindo esta dobra da página, a artista a utiliza como recurso de identificação com o leitor, como pode ser observado, também, na imagem abaixo (ilustração 2). No movimento de leitura, as laterais se fecham e encurralam, ainda mais, o menino entre os carros. Do mesmo modo que aproxima os personagens do leitor, levando à ideia de identificação, como se o leitor estivesse ao lado os demais personagens, entre o motorista e seus cães.
























Ilustração - 2ª página dupla

O uso da cor nesta imagem (ilustração 2) nos remete a constituição dos personagens. A motorista tem a mesma cor que os cães, seus dentes são pontiagudos, recursos estes empregados como uma forma de aproximação da condição de animalidade; ela é um animal agressivo, assim como os cães. Os carros nesta imagem se diferem da anterior, sendo amarelos.

No decorrer da narrativa confrontamo-nos com algumas situações as quais o menino vive em seu cotidiano, na situação suscetível a que se encontra. Na sequência da narrativa visual, uma mulher rouba um dos objetos os quais o menino vende na rua. Em nenhuma das imagens a artista colocou a presença de um semáforo para localizar a história. No entanto, no uso das cores, a artista emprega nos objetos que o menino vende as cores referentes à convenção das cores do trânsito.

O emprego da cor nas imagens seguintes representa os sentimentos que permeiam a situação. Se nas imagens anteriores (ilustrações 1 e 2 ) as matizes avermelhadas eram utilizadas nos momentos negativos, nos personagens ‘maus’, vemos na próxima imagem (ilustração 3) que a personagem da vez tem traços dessa matiz, mas também tem variações de cor entre azul e verde - que são as cores do menino. O uso da dobra da página é utilizado nesta página que, no movimento da leitura, estabelece o que é dentro e o que é fora do carro. Vemos uma senhora avermelhada, com roupa azul, com colar de pérolas, anéis, brincos e de posse de uma bolsa a qual segura firme junto ao corpo. Ela olha de lado para o menino, desconfiada . O medo de ser assaltada, o preconceito, a ostentação, a riqueza, estão do lado de dentro, no canto esquerdo, enquanto a curiosidade, o espanto, a pobreza, estão na rua, do lado de fora do carro.
























Ilustração 3 - 3ª página dupla

Passível de especulação, já que a condição de carência financeira é evidente deste o início da narrativa, a carência afetiva é outro ponto levantado nesta narrativa visual. Por que uma criança está na rua a esta hora da noite? Onde está sua mãe? São questões que fazemos quando nos deparamos com situações semelhantes. A próxima imagem (ilustração 4) nos dá indícios de que algo mais ocorre na vida deste menino. 
A composição se assemelha à estrutura da ilustração 3, na qual o menino está olhando para dentro de um carro. Talvez seja o mesmo carro no qual duas pessoas estão sentadas no banco de trás, já que os interiores dos veículos se assemelham. Nesta imagem, o menino se defronta com uma situação que lhe causa melancolia: uma mãe carrega um bebê, no qual ambos experienciam um momento de puro afeto, tendo uma atmosfera sublime. O menino tem a face triste, está pasmado com o que observa, podemos imaginar seus pensamentos neste momento de contemplação. Os tons frios nos levam a sentimentos mais amenos, a considerar a mãe e seu filho como pessoas boas, ainda que estejam alheias à condição do menino.























Ilustração 4 - 4ª página dupla

No desenvolvimento da narrativa nos encontramos imersos nesta dura realidade a qual nos identificamos e nos projetamos na intenção de supor os sentimentos que perpassam a vida desta criança. Cansado, com fome, o menino pausa seu ‘trabalho’ e se vê forçado a comer aquilo que lhe daria dinheiro (ilustração 6). À esquerda da imagem, podemos visualizar a vitrine de uma confeitaria e o menino comendo uma das frutas que tentava vender. Seu rosto não demonstra alegria em comer, ou não demonstra alegria em comer o que está comendo. Teria ele querido comer um dos bolos? A composição da imagem sugere que sim.

No canto esquerdo da imagem o menino sentado no meio fio, em uma esquina, à frente de uma confeitaria. Na lateral direita, um carro com dois ocupantes observam o ocorrido. Um deles, com a mão na boca, olha pra cima, fugindo o olhar. O outro olha para o cachorro do centro da imagem que atravessa a rua, de encontro ao menino. Toda a atmosfera que os circundam tem tons avermelhados, assim como os carros e seus ocupantes.

O cachorro que se aproxima do menino em nada se assemelha aos demais cachorros da narrativa. O cachorro tem as cores do menino e seus dentes não estão protuberantes. As cores semelhantes buscam comparar menino e cachorro? Estaria o menino na condição de animalidade, de abandono tal qual um cachorro de rua? Suas ações demonstram que seus sentimentos são elevados, já que na continuidade da narrativa ele compartilha com o cão aquilo que é seu (único?) sustento, suas frutas.
























Ilustração 5 - 5ª página dupla

Sintetizando a sequência desta narrativa visual, o menino rouba um embrulho de um carro. Suas condições de vida o levam a roubar? Talvez lhe pareça o único modo de sobreviver na rua em uma grande cidade. Os passageiros do veículo, apavorados diante da ameaça que representa o menino, sentem-se acuados, embora tenham muitos pacotes os quais o menino rouba um para si: um presente embrulhado; seria de aniversário? Saberia o menino o que é ganhar um presente de aniversário? Num beco escuro e escondido, no vão de qualquer prédio, de qualquer cidade, o menino abre "seu presente" e o mesmo cotidiano lhe é presenteado novamente, uma caixa semelhante à que ele tinha em mãos no inícioda narrativa.

Finalizando a sequência narrativa, a artista nos brinda com a mesma imagem que esta história iniciou. O ciclo se encerra, mas ele nos diz que tudo será iniciado novamente. O cotidiano do menino não será alterado substancialmente. Amanhã estará ele suscetível às mesmas situações as quais ele se defronta em sua rotina na rua.

O fazer artístico, Angela-Lago e sua ‘Cena de Rua’

A sensibilidade da artista em relação às crianças que vivem em situação de rua nos conduz através de suas impressões calcadas na composição das imagens de sua narrativa visual. A narrativa mobiliza sentimentos, fazendo com que nos identifiquemos com as personagens, nos sensibilizemos com a situação na qual o menino se encontra, nos revoltemos com as atitudes que os personagens que se relacionam com o garoto têm, nos envergonhemos aos nos identificarmos com estes mesmos personagens, tendo os mesmos sentimentos.

Angela-Lago teve intencionalidade ao construir esta densa narrativa visual. Ela vive em uma grande cidade e se depara com situações semelhantes cotidianamente, assim como muitos de nós. O modo que confrontamos com esta situação se altera com a constância dos fatos: todos os dias vemos a pobreza, vemos pessoas vivendo de modo inapropriado, passando fome, usando drogas, etc. No entanto, esta repetição, aliada à sensação de impotência, tem efeito banalizador. Ainda que não concordemos com esta situação, a vida moderna nos conduz para este efeito anestesiante.

A narrativa visual Cena de Rua nos retira do estado de apatia que nos encontramos em nosso cotidiano e denuncia; abre nossos olhos para uma realidade que está presente há muitos e muitos anos.

A arte possibilitou essa denúncia de forma poética, através da sensibilidade de uma artista experiente que se comoveu e quis comover. O estopim de criação desta narrativa, de acordo com Angela-Lago, foi "O sentimento de orfandade, então eu tive o sentimento de simpatia aguçado pelo menino de rua. Eu vi o menino abandonado com muito mais simpatia. Eu perdi meu pai muito mais madura, envelhecendo, com mais de 50 anos, mas, na hora que você fica órfã, você é órfã com 50, com 70".

Acerca da ausência de texto em sua narrativa Angela diz: "Imagine escrever esse livro com texto? Seria intolerável a possibilidade de texto porque ficaria um texto tão demagógico. O que eu posso até falar com palavra, isso é até prudente com imagem que eu posso falar da desigualdade, posso me pôr de um lado tranquilamente e dividir um lado é bom e um lado é péssimo, porque um lado que é visto como o lado mau não é tão mau assim, que o lado bom é péssimo, horroroso, eu posso fazer isso com imagem. Com palavra eu não daria conta, eu acho que eu seria demagógica. O texto não cabia, e ia ficar ridículo, sem força, sem eloquência, sem dramaticidade, ou com uma dramaticidade piegas, ou com uma dramaticidade demagógica."

Angela domina o uso da técnica e sabe empregá-la de modo que mergulhamos em sua narrativa e divagamos pelo terreno artístico, embalados pelo sentimento de fruição estética. Ao contrário do que subentende-se por obra artística e da necessidade do fazer artístico, como uma necessidade de expressão e comunicação a outrem, Angela diz que precisou fazer o ‘Cena de Rua”, talvez ele tenha sido necessário pra mim, engraçado que eu acho que os livros são necessários pro autor. Que não é pros leitores, é pro autor mesmo.

A partir do sentimento de orfandade, ela se colocou a necessidade de fazer esta história, de narrar esta situação, e assim o fez e a compartilhou, quando da publicação desta obra. Se esta obra se fez necessária para Angela-Lago em determinada situação de sua vida, esta obra se coloca como necessária para nós, leitores, enquanto leitura, enquanto exercício de cidadania.

A imagem exige de seu leitor que ele recorra ao seu repertório de vida para que a leitura ocorra. O leitor se coloca ao ler uma imagem. A leitura da imagem está estritamente vinculada à subjetividade e às impressões e concepções de cada um. A artista, consciente do poder de comunicação das imagens, a partir de sua poética nos reapresenta um antigo problema das grandes cidades: a desigualdade social. Ela denuncia, reorganiza, revaloriza, desmoraliza e resignifica a questão da marginalidade, do bom e do mau, a partir de sua narrativa visual. Finalizo este artigo com os dizeres de Angela-Lago sobre a ausência de palavras nesta narrativa:

Eu não tinha outra chance de fazer esse livro com palavras, eu tenho que fazer uma reportagem, mas uma reportagem visual, porque as pessoas não vão acreditar se eu falar. (Angela-Lago)

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Bibliografia

VYGOTSKY, Lev. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,
2000.
OSTROWER, F. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro:Campus, 1990.
__________. Criatividade e Processos de Criação. Petropólis-RJ: Vozes, 1997.

LAGO, Angela. Entrevista concedida a Hanna Araújo. Belo Horizonte,
12/12/2008.
__________. Cena de Rua. Belo Horizonte: RHJ, 1994.
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* Hanna Araújo- Formada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Unicamp em 2007. Atualmente está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, onde desenvolve pesquisa de mestrado, estudando o processo de criação dos artistas autores de livros de imagem, junto ao Instituto de Artes da Unicamp, sob orientação da Profa. Dra. Lucia Reily. É bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).




[1] Entrevista realizada em Belo Horizonte em 05/12/2008, coletada por áudio e vídeo.
[2] Os demais artistas os quais seus processos de criação são nosso objeto de estudo são Graça Lima e André Neves.